No dia 1º. de junho deste ano de 2014 celebramos a Festa da Ascensão do Senhor. A Bíblia diz que “Jesus
subiu ao céu na presença dos seus discípulos”. Infelizmente muitas pessoas acreditam literalmente nesta frase. A Bíblia usou neste caso uma linguagem simbólica para explicar um acontecimento verdadeiro. A verdade é que Jesus, depois de ter comprido fielmente a missão que seu Pai o deu aqui na terra foi glorificado por este mesmo Pai. Assim como o vencedor num evento nas Olimpíadas sobe ao pódio e é aclamado por todos os presentes, assim também a Bíblia usa a expressão que Jesus “subiu ao céu e está sentado à direita de Deus” para dizer que o mesmo Jesus, que morreu na cruz, mas ressuscitou, é o vencedor da morte e do pecado, é o grande Salvador da humanidade.
Segundo o teólogo Pe. João Mac Dowell SJ (cf. Religião também se aprende, Editora Santuário, Aparecida, Vol. 5, p.9): “Hoje em dia essa linguagem presta-se a confusões. Muita gente, ouvindo falar do céu, pensa logo num lugar, lá em cima, onde moram Deus e os santos e para onde vão também as almas dos que se salvam. Mas essa idéia não é correta e, para muitos, com razão, parece ridícula”. De fato, sabemos que em torno do nosso planeta Terra, existe o Sistema Solar que se situa na Via Láctea, há um espaço imenso povoado de estrelas, planetas, galáxias, asteróides, cometas, gases nebulosos e poeiras interplanetárias etc. O espaço ao redor da Terra é imensurável, e obviamente Deus não se encontra neste espaço ou “lá em cima” como muitas pessoas dizem. O céu não é lugar, mas um estado de existência ou uma maneira de ser (cf. Catecismo da Igreja Católica, No. 2794), e neste estado de existência ou maneira de ser não há tempo ou espaço como as coisas materiais deste mundo exigem. Deus, porém, sendo um espírito puro não precisa de lugar nem de espaço. Ele está presente invisivelmente em todas as coisas, como o Criador que sustenta a sua existência.
O conceito de céu é realmente fora de nossa compreensão. A própria Bíblia afirma: “Aquilo que olho não viu nem ouvido ouviu nem mente humana concebeu, isso Deus preparou para os que o amam” (1 Cor 2, 9). O teólogo Pe. J.Mac Dowell S.J. afirma que na Bíblia a palavra “céu” é outra maneira de dizer Deus. Reino do Céu significa Reino de Deus, Pai celeste quer dizer Deus Pai. É um símbolo muito apropriado, porque o conceito que nós temos do céu, por sua beleza, paz e alegria, faz-nos lembrar de Deus (cf. op. cit. P.10). Concordo com o referido teólogo quando ele afirma “Ir para céu não significa entrar num lugar muito bonito, mas sim viver definitivamente em companhia de Deus, gozando da alegria da presença daquele que é a bondade infinita. Quem ama uma pessoa gosta de estar junta dela. Seu maior desejo é unir-se cada vez mais com ela. Quem gosta de Deus, que é puro amor, encontrará a sua felicidade completa em viver para sempre em comunhão total com ele e com todos os que o amam”.
O Catecismo da Igreja Católica define o céu assim: “O céu é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Ele (Cristo)” (No. 1026). “Viver no céu é ‘viver com Cristo’. Os eleitos vivem ‘nele’, mas lá conservam – ou melhor, lá encontram – sua verdadeira identidade, seu próprio nome” (No. 1025). “Em razão de sua transcendência, Deus só poderá ser visto tal como é quando Ele mesmo abrir seu mistério à contemplação direta do homem e o capacitar para tanto. Esta contemplação de Deus em sua gloria celeste é chamada pela Igreja de ‘visão beatífica’ (No. 128)”.
Depois de sua morte no crepúsculo de sua presença física aqui na terra, Jesus, que amou o seu Pai celeste a ponto de renunciar à alegria de sua companhia, para assumir o destino de todos nós mortais, “foi envolvido pela glória de Deus como Filho querido e Senhor de todo o universo”. Jesus com sua morte e gloriosa ressurreição, abriu também para nós, seus irmãos, o caminho da vida verdadeira no amor e na paz na glória de Deus. Por isso a Ascensão de Jesus é para nós motivo de grande esperança porque acreditamos com Jesus glorificado e por Ele um dia chegaremos a participar da “felicidade eterna de Deus”. Portanto, a Ascensão de Jesus não quer dizer que Ele foi para um lugar lá no alto, onde Deus reside. Deus é espírito: não está em nenhum lugar especial do universo, mas envolve toda a criação com o seu amor e poder. Ir para o céu significa começar uma vida nova, de paz e alegria, na presença amiga de Deus. É importante lembrar que não foi no dia da Ascensão que Jesus voltou ao céu. Desde o momento de sua morte na cruz Ele já foi glorificado por seu Pai. Por isso Ele disse ao ladrão arrependido a famosa frase: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
Mas a Ascensão de Jesus não significa que Ele nos abandonou. Ele estará sempre no meio de nós, não mais visível em sua natureza humana, como os apóstolos o viam. Mas estará presente entre nós por meio da Palavra do Evangelho, anunciada na Igreja, e por meio de seu Espírito Santo que atua em nossos corações. Ele está presente de modo particular na Eucaristia, e nas reuniões de orações dos cristãos. Ele está agindo nos sacramentos e continuará sua obra salvífica na Igreja, que é seu Corpo Místico. Estará presente também em nosso próximo, particularmente no mais necessitado: “Todas as vezes que vocês fizeram isto a um destes seus irmãos mais pequeninos, foi a mim que o fizeram” (Mc 10, 51). Hoje Jesus continua permanecendo “no meio de nós” A Ascensão não significa uma separação. Jesus nunca nos abandonou. Ele mesmo disse: “Estarei com vocês todos os dias até o fim do mundo”. Portanto “Ele está no meio de nós” como recitamos com tanta convicção nas nossas celebrações.
Por padre Dr. Brendan Coleman Mc Donald, Redentorista e Assessor da CNBB Reg. NE1