martes, 16 de diciembre de 2014

A Capela de Santa Luzia

Em meados da década de 1910, o Ceará, assim como o Brasil e o mundo, presenciou fatos históricos importantes. O começo da Guerra Mundial assombrava e amedrontava todos os que participaram e tiveram notícias de tamanha barbárie. Começavam, no Brasil, as greves operárias, o início das reivindicações para melhores padrões de trabalho. Os cearenses sofriam com terríveis secas, como a de 1915, além da famosa ‘’Sedição de Juazeiro’’, em 1914, onde se tornou notável a influência de Padre Cícero sobre o povo camponês. Em meio a tanta violência, nasce, no Ceará, como uma flor que brota em meio à lama, uma nova esperança: uma nova Arquidiocese, e nela, um pouco antes, uma pequena comunidade, nas proximidades do Rio Cocó.

Onde hoje se encontra a Praça de Santa Luzia, antigamente pertencia ao Sr Henrique de Castro Alencar, que cedeu o espaço no qual, em1913, foi fincado um cruzeiro a fim de simbolizar que ali seria construída uma Igreja. O período de construção da Capela foi de dois anos, terminando apenas em 1915, graças aos esforços de Sr Henrique e amigos da comunidade, que decidiram por consenso, elegendo Santa Luzia como padroeira. Neste meio tempo, em 1915, com a Bula Papal “Catholicae Religionis Bonum”, de Bento XV, A Diocese do Ceará é elevada a Arquidiocese de Fortaleza, criando-se também, as Dioceses do Crato e de Sobral.

A Igreja de Santa Luzia foi inaugurada com as bênçãos de Frei Roberto e de Dom Antônio de Almeida Lustosa. Na primeira celebração, foram batizadas algumas crianças, que futuramente viriam a dar frutos dentro da comunidade, tendo com exemplo D. Zilar, umas das primeiras catequistas da Capela. Então, o Patronato das irmãs também ajudavam nas celebrações e trabalhavam no ensino de ler e escrever de meninas. Tudo isso era feito ao redor da capela, onde havia muitos sítios, vacarias, ao redor do que, aos poucos, foi se construindo um bairro, batizado primeiramente de ‘’Santa Luzia do Cocó’’ e, atualmente, denominado ‘’Jardim das Oliveiras’’.

Por volta de 1922, a Comunidade era pequena e a Capela dispunha de poucos bancos, dividida entre o lado para mulheres e outro para os homens. A mesa da comunhão separava os fiéis do altar, que era revestido de pastilhas e ornamentado pelas imagens de Santa Luzia, São Francisco, Santo Antônio e Nossa Senhora. No meio do Sacrário havia um crucifixo.
Por ocasião das missas, as mulheres precisavam estar com véu na cabeça e o terço na mão e, além de tudo, estarem bem vestidas para receber a eucaristia. Na celebração das missas, o sacerdote permanecia de costas para a assembleia e a missa era rezada em latim. Por não haver energia, a Capela era iluminada por lampião ou velas. Além disso, a luz do luar iluminava o cruzeiro, aonde as reuniões eram realizadas.

Em 1932, frei Roberto faleceu e toda a comunidade sofreu muito com sua ausência. Com o decorrer do
tempo, Dom Lustosa designou o padre Francisco Cônego Pereira, mais conhecido como padre Pereira, como capelão da Capela. Ele chegou à Comunidade neste mesmo ano, começando seu trabalho missionário e ficando vários anos na comunidade. Além de ser muito querido, ele era respeitado pelo povo. Com grande dificuldade de chegar à Comunidade, pois residia em Messejana, vinha apenas uma vez por mês para celebrar missas na Capela Santa Luzia.

Por volta de 1970, chega à comunidade o padre Luis Renato Francisco Derouet, francês, possuidor de grande carisma, respeitador e considerado pela Arquidiocese, o maior animador da juventude e grande incentivador das Comunidades Eclesiais de Bases (CEBES). Ele morou durante 20 anos na sacristia da Capela, em um pequeno quarto, o qual ele considerava suficiente. O Padre chegou a trabalhar no Hospital Geral de Fortaleza, como torneiro mecânico.

Ele assumiu algumas comunidades para as quais foi designado, tais como a Capela de Santa Luzia, Menino Deus e São Sebastião que, naquela época, pertenciam à Paróquia Nossa Senhora da Glória. Em 1991, chegaram os padres redentoristas.

Em 1996, a presença dinâmica do Padre Edimilson animou a comunidade a mais a trabalhar para o reino de Deus. Passou também pela capela, o Padre Raimundo Nonato, que embora de passagem rápida, assim como os outros, deu sua parcela de ajuda. Com a doença do Padre José Alberto Castelo, Padre Sales veio substitui-lo até a chegada do Padre José Wilson.

Em 2003, com o decreto de Dom José Antônio Aparecido Tosi Marques, Arcebispo de Fortaleza, é criada a Paróquia São João Eudes, administrada pelos padres da Congregação de Jesus e Maria, os Eudistas, e a capela de Santa Luzia se integrou a esta desde então. Dentre as cinco comunidades que fazem parte desta paróquia, a de Santa Luzia é a mais antiga. Sua Capela será a primeira das três capelas paroquiais (as outras são Menino Deus e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro) a ter ser templo e altar consagrados, pelo bispo auxiliar de Fortaleza, Dom José Luis Gomes Vasconcelos, na presença de relíquias de São João Eudes. A cerimônia dará abertura ao JUBILEU da Capela, que se prepara para comemorar, em 2015, 100 anos de existência.

Contar a história de a Capela de Santa Luzia é também contar a história de uma comunidade que se criou através dela.

Jonas Soares (Agrad. ao Senhor ‘’Chico Padeiro’’)




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