“Na Cruz, a salvação e a vida”. Quando li pela primeira vez esta frase fiquei maravilhado. É o lema episcopal de Dom Aloisio Lorscheider, que durante 22 anos se dedicou à Arquidiocese de Fortaleza, e que nos ajuda, de maneira direta, a entender tudo o que estávamos preparando no tempo da Quaresma e que estamos celebrando neste mês de abril.
Como sabemos, o tempo da Quaresma nos propõe uma espiritualidade bem profunda. Celebramos os grandes mistérios de nossa fé. Foi uma longa caminhada de 40 dias de jejum, oração e esmola, que reflete a conversão íntima do nosso coração. Por meio de gestos externos mudamos nossas atitudes internas, o que será ponto de referência para restaurar a nossa vida. A palavra é restaurar, pela morte de Cristo na Cruz, toda a humanidade que encontra a salvação e a vida.
Na cruz, o Senhor Jesus inclinou a sua cabeça e entregou o seu espírito para, posteriormente, ressuscitar. Esta é a plena certeza da nossa vida e finalidade da nossa salvação. Por isso, a Páscoa é o centro da vida cristã e dela se dá o sentido da nossa caminhada na construção do Reino de Deus. O mistério pascal, celebrado em toda Igreja, é o principal evento de toda humanidade. O Concílio Vaticano II expressava que: “... pelo mistério pascal da sua bem-aventurada Paixão, Ressurreição dos mortos e gloriosa Ascensão, em que «morrendo destruiu a nossa
morte e ressurgindo restaurou a nossa vida». Foi do lado de Cristo, adormecido na cruz, que nasceu o sacramento admirável de toda a Igreja.” (CONSTITUIÇÃO CONCILIAR SACROSANCTUM CONCILIUM SOBRE A SAGRADA LITURGIA N° 05).
Na Sexta-feira da Paixão, o sacerdote ergue a cruz coberta por um tecido vermelho proclamando: “Eis o lenho da Cruz do qual pendeu a salvação do mundo”. E o povo aclama: “Vinde adoremos”. Na Sexta-feira Santa, a liturgia da Igreja celebra o mistério da cruz, fazendo-nos sentir o significado e o alcance dos o frimentos de Jesus como Sumo Sacerdote da nova aliança: "Embora sendo Filho de Deus, aprendeu a ser obediente através de seus sofrimentos. E tornou-se a fonte de salvação eterna para todos que lhe bedecem" (Hb 5,8-9).
Para Cruz erguida nossos olhos e nossos corações se direcionam como reconhecimento da salvação dada por Deus por meio do seu filho Jesus Cristo. A cruz é exaltada com reverência e silêncio, o reconhecimento dado por cada fiel quando adora o lenho da vida. Beijar a cruz é ter a plena certeza que nela está a salvação e a vida. A morte de Cristo, por mais dolorosa que seja, realiza toda a espera messiânica, porque o caminho da cruz é a maneira pela qual Deus revela seu amor e nos dá a vida. A vida em plenitude nos é revelada por meio da encarnação e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo.
A morte de Cristo é um grande testemunho da verdade. “Conhecereis a verdade e a verdade o libertará” (Jo 8,32). O sofrimento do Senhor Jesus é o sofrimento de todo gênero humano que se deixou levar pelo pecado. Cristo assume toda a realidade humana exceto o pecado. Quando Jesus sofre na cruz toda a mentira é retirada e o homem conhece a Verdade de Deus. Esta Verdade de Deus é o “sangue derramado por muitos em remissão dos pecados” (Mt 26,28). Da cruz do Senhor emana a Verdade plena de Deus e em Jesus Cristo a verdade de Deus se manifestou inteiramente, porque Ele é a Verdade.
Termino destacando este lema: “Na cruz, a salvação e a vida”! Porquanto, chegamos à salvação por meio da cruz de Cristo. A cruz dá sentido à nossa vida, pois por seu meio recebemos a Verdade de Deus. Esta verdade é que toda a humanidade se salve e reconheça o senhorio de Jesus. Deus não é alheio ao sofrimento humano; Ele se une a cada pessoa que sofre nas diversas esferas de nossa sociedade. Na nossa cultura, estamos mais identificados com o sofrimento dentro do nosso contexto latino-americano, mas na cruz se abre a liberdade e a escravidão do sofrimento dá lugar à vida.
“Eu vim para que todos tenham vida e todos tenham vida plenamente” (Jo 10, 10). Assim, a missão é restaurar o Plano de Deus, recuperar a vida divina para a humanidade. Celebremos e nos alegremos pela vida dada por Deus, e pela salvação. Cristo dissipa as trevas do pecado com a coluna luminosa na noite do Sábado Santo. Os nossos corações recebem alegremente a grande graça do amor de Deus, por isso não podemos continuar da mesma maneira e sim mudar nossas atitudes. Encontremos a vida e a salvação dada por Cristo!
Pe. Cristiano Henrique de Sousa cjm.
Retirado do Jornal AveCor 19°Edição
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